Por José Rocha
Quem viveu os anos 70 e 80 no centro de Manaus — especialmente os frequentadores da Praça da Saudade e dos bailes do Atlético Rio Negro Clube — certamente já ouviu histórias sobre o lendário “Di Ouro”. Suas aventuras, brigas e episódios controversos ainda ecoam nas rodas de conversa dos sessentões nostálgicos.
Seu nome verdadeiro era Hideraldo da Matta Vianna Costa, nascido em Manaus em 1960. O apelido “Di Ouro” provavelmente veio do gosto por ostentar cordões grossos de ouro — marca registrada de seu estilo.
A partir dos vinte e poucos anos, era visto como um verdadeiro playboy da época: faixa preta em jiu-jitsu e karatê, dono de uma academia na Avenida Constantino Nery, e sempre circulando pela cidade em carros e motos do ano. Também era visto em jet-skis nas praias, sempre acompanhado de belas mulheres. Esse estilo chamava atenção — da polícia, dos fãs e dos curiosos.
Na Praça da Saudade, era conhecido como o “Rei da Praça”. Nos bailes do Rio Negro Clube, sua presença era sinônimo de confusão, chegando a derrotar oito homens numa briga em frente ao clube. Mas também era lembrado pela lealdade aos amigos e por ajudar quem precisava, sempre tomando partido nas broncas que apareciam. Diziam que tinha seus defeitos, mas muitas virtudes. Estudava com afinco para passar no vestibular de Direito e tornar-se um advogado respeitado na cidade.
Embora se dissesse funcionário da Prefeitura, levava uma vida de solteiro abastado. Em 1985, foi preso em flagrante com uma quantidade de cocaína pura, vinda de Tabatinga, encontrada num apartamento na Rua Duque de Caxias, no bairro Praça 14 de Janeiro. O caso foi noticiado pelo jornal A Crítica e filmado pela TV Ajuricaba. Alegou que era para consumo próprio, mas acabou autuado e levado ao presídio. Contava com advogados que garantiam sua liberdade em tempo recorde.
No dia 14 de setembro de 1985, aos 29 anos, sofreu um atentado próximo à sua casa, no Conjunto AEFAM, bairro Flores. Quatro dias depois, foi assassinado com dois tiros — um no pescoço e outro no rosto — enquanto comprava uma revista numa banca ao lado da Drogaria Avenida, no Boulevard. Estava com sua namorada e sua pistola dentro do carro. Morreu na hora. Foi levado ao necrotério do Hospital Getúlio Vargas e depois ao IML, onde os fotógrafos do jornal A Crítica publicaram imagens chocantes.
O velório ocorreu no necrotério da Beneficente Portuguesa. Parentes e amigos evitaram comentar sobre o crime e chegaram a impedir o acesso de fotógrafos. Muitos comentaram que foi “queima de arquivo”, pois ele teria informações sobre o tráfico de drogas e o controle de carros roubados em Manaus e fora dela.
Não conheci pessoalmente o Di Ouro, tampouco posso afirmar nada sobre os fatos. Apenas relato o que ouvi dos mais velhos e o que consta nos jornais A Crítica e Commercio, disponíveis na Biblioteca Pública do Amazonas.
Que sua história, com todas as suas nuances, permaneça como parte da memória urbana da nossa cidade.
Por José Rocha