27.3 C
Manaus
sábado, 16 de agosto de 2025
- Advertisement -spot_img

Brasil pode encontrar na China uma alternativa ao tarifaço dos EUA? Entenda

Produções com Dave Franco, Pamela Anderson, Vanessa Kirby e mais estreiam nos próximos dias

Com o tarifaço imposto pelos Estados Unidos, a China vem adotando uma estratégia “clara” de reforçar as relações com seus parceiros comerciais. A análise foi feita por Thomas Law, presidente do Ibrachina (Instituto Sociocultural Brasil-China)

“Em vez de depender de um único fornecedor estratégico, a China tem buscado alternativas em nações com as quais mantém boas relações diplomáticas e estabilidade institucional. Nesse cenário, o Brasil surge como um parceiro comercial relevante”, afirma Law.

“Produtos que antes eram majoritariamente importados dos EUA estão agora sendo comprados de países como o nosso, sobretudo nos setores de alimentos, energia, commodities e até insumos industriais.”

Desde o dia 6 de agosto, os Estados Unidos vêm aplicando uma tarifa de 50% sobre os produtos importados do Brasil, a mais alta das alíquotas aplicadas por Donald Trump.

A guerra comercial do republicano tem frontes por todo o mundo, sendo que o embate com a China chegou a escalar a um nível ainda mais drástico no começo do ano.

Até as partes concordarem em sentar para conversar, a Casa Branca confirmou que as alíquotas aplicadas sobre produtos chineses ultrapassaram, em abril, o patamar de 200%.

Em meio a negociações que caminham vagarosamente, a taxa cobrada pelos EUA foi mantida em 30%, mas, até o momento, sem nenhuma garantia de que não vão voltar a subir.

O Brasil já tem em Pequim seu principal parceiro comercial. Contudo, a pauta exportadora à China é muito diferente da destinada aos Estados Unidos, que é um caso peculiar.

Enquanto grande parte das vendas do país aos chineses – e ao mundo – é concentrada em commodities e produtos do agronegócio, os envios do Brasil aos norte-americanos é composta em grande parte por produtos de valor agregado da indústria de transformação, manufaturados.

Alguns analistas veem com dificuldade o redirecionamento para a China dos produtos que seriam enviados aos EUA. Ainda assim, em meio à tensão comercial, o governo Lula e Pequim têm trocado afagos.

Interesses da China no Brasil

No final de julho, um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China ressaltou a disposição chinesa de aprofundar os laços com o Brasil em áreas estratégicas.

Mais recentemente, na véspera do tarifaço contra os produtos tupiniquins entrar em vigor, a embaixada do país asitático em Brasília publicou postagens elogiosas ao café brasileiro, com o anúncio de habilitação de novas empresas exportadoras e acenos sobre o crescimento do consumo da bebida no mercado chinês.

“A recente liberação de 183 empresas brasileiras para fornecimento de café é um exemplo de como esse realinhamento abre uma janela de oportunidades concreta para o exportador brasileiro”, observa Thomas Law.

Além deste exemplo, Daniel Lau, conselheiro empresarial especialista no país asitático, destaca que Pequim autorizou 30 exportadores brasileiros de gergelim – passando de 31 para 61 o número de habilitados, quase dobrando as permissões – e 41 de farinha de origem animal a venderem seus produtos aos chineses.

Para Fagner Santos, especialista em comércio exterior e mercado chinês da JF Comex Consultoria, esses movimentos mostram “um redirecionamento estratégico das exportações brasileiras que antes tinham foco nos EUA e agora encontram espaço no mercado chinês”.

No sábado (6), o ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, disse durante o Seminário Esfera Infra, que a China e outros países asiáticos querem ampliar suas relações comerciais com o Brasil em meio ao tarifaço dos Estados Unidos.

Em paralelo, um exemplo concreto de tentativa de aproximação entre as partes veio do Ceará, estado do qual o governador, Elmano de Freitas (PT), se reuniu, no meio da semana, com o embaixador da China no Brasil, Zhu Qingqiao, para discutir parcerias econômicas.

Em entrevista no começo de junho, antes do anúncio da alíquota de 50%, o gerente do escritório Ásia-Pacífico da ApexBrasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos), Victor Queiroz, havia sinalizado que, naquele momento, o tarifaço ainda era muito recente – e numa escala menor ao Brasil – para cravar que influências poderia ter na relação comercial com a China.

Porém, projetava que o prolongamento da tensão comercial poderia significar uma “porta de entrada” para o Brasil “se destacar” e buscar variar suas oportunidades de mercado com os chineses.

Semicondutores, sucos, sorvetes, logística, delivery, SAF (Combustível de Aviação Sustentável), fontes de energia renovável e até medicina são alguns dos setores que Queiroz destacou como de interesse da China no Brasil.

A Apex organizou um mapa estratégico de mercados e oportunidades comerciais para as exportações brasileiras na China, que inclui mais de 400 itens e pode ser acessado em seu site.

A conversa com o quadro da agência foi feita no contexto dos investimentos anunciados pelo nosso principal parceiro comercial no país. Para os especialistas ouvidos pela reportagem, o momento é oportuno não só para o Brasil levar seus produtos para a China, como atrair investimentos chineses para o território nacional.

“Já vivemos um aumento expressivo de investimentos chineses no Brasil, e a tendência é aumentar ainda mais com a nova onda de empresas privadas que estão explorando o mundo e buscando novos mercados. E, definitivamente, a América Latina e o Brasil estão se beneficiando ao receber a chegada de novas empresas chinesas na região”, observa Daniel Lau.

Queiroz explica que “a troca é que eles entram aqui para agregar valor”.

“Investimento não só em infraestrutura, mas na área de serviços, que impacta bastante, gera renda e movimenta o mercado. Assim, estimula o consumo e melhora a qualidade de serviços. Eles vão agregar valor nos nossos produtos e exportar para o mundo, além de vender no Brasil, então não é só investir e dominar o Brasil, é gerar renda e emprego”, pontuou o porta-voz da ApexBrasil.

O que as empresas brasileiras devem fazer para se posicionar no mercado chinês?

Os especialistas ouvidos pela reportagem ressaltam que o mercado chinês tem suas peculiaridades, de modo que conhecer profundamente sua realidade e cultura é um passo essencial para se firmar com o consumidor de lá.

“Para entrar no mercado chinês é preciso entender que ele tem uma organização política, econômica e um sistema financeiro diferente de outros países. É fundamental ter um estudo prévio das características deste mercado para entender a dinâmica local de negócios, baseada em confiança, relacionamentos de longo prazo e respeito mútuo”, orienta Thomas Law, do Ibrachina.

Assim, Daniel Lau aconselha que o empresário brasileiro visite a China e pratique o ‘Guanxi’, um bom relacionamento cultivado com os empresários chineses.

“O empresário brasileiro precisa aproveitar esta importante janela de oportunidade no mercado chinês e ampliar seus contatos na China, através de parceiros locais, distribuidores locais, tradings, etc.”, indica Lau.

Ele aponta que já existem planos de várias missões no segundo semestre de 2025 para levar empresários brasileiros para a China e também viagens solo. “Importante é visitar a China, conhecer o seu mercado e como vender para este mercado.”

Fagner Santos, da JF Comex Consultoria, aponta que é fundamental o exportador participar de feiras internacionais, como a Canton Fair, que ocorre entre outubro e novembro.

O presidente do Ibrachina destaca ainda que o exportador deve estar atento a regulamentações específicas, exigências sanitárias, processos de certificação e tradução correta de rótulos e embalagens.

“Outro ponto é a proteção da propriedade intelectual. Registrar marcas e patentes na China é um passo obrigatório antes de qualquer negociação”, ressalta Law.

“O apoio de uma consultoria especializada e a busca por parceiros locais confiáveis são fatores determinantes para o sucesso. Há bons programas do governo federal que se propõe a auxiliar os empresários brasileiros neste processo, como o Programa Exporta Mais Brasil, criado pela Apex”, sugere.

O fortalecimento de programas de exportação governamentais é uma das medidas ventiladas por membros do governo Lula que devem estar no plano de socorro aos setores afetados pelo tarifaço.

“É hora de agir. O tarifaço americano não tem volta, e depender exclusivamente do mercado dos EUA é arriscado. O empresário precisa diversificar e explorar o potencial da China. E isso exige presença física, networking e estratégia. Muitos já estão fazendo isso — e com sucesso. Agora é a vez também de mais pequenas e médias empresas aproveitarem esse momento”, conclui Santos.

Últimas
- Advertisement -spot_img

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Related news